Uma cidade
para a poesia
O centro político/religioso iraniano reside na
capital Teerã. Mas, a história persa pode ser revisitada em Persépolis, assim
como o espírito aventureiro dos viajantes nômades pode ser percebido em Isfahan
e a alma poética dos persas parece ainda adejar por entre as aléias dos jardins
em Shiraz.
Essas três cidades são as grandes estrelas entre os destinos
turísticos mais populares no Irã e é fácil entender por quê: em Persépolis está
o maior sítio arqueológico do país, com as ruínas do antigo império persa. Em
Shiraz e Isfahan é fácil imaginar-se em cenários das Mil e Uma Noites.
Shiraz (já foi capital da
Pérsia) é o centro da província de Fars. É conhecida como a cidade dos
rouxinóis e dos jardins (imagem pra lá de poética). O clima local é ameno e a
cidade é lembrada ainda pelo vinho que tem seu nome. As uvas continuam sendo
cultivadas na região, mas são totalmente exportadas para empresas estrangeiras,
pois as leis islâmicas proíbem ao povo o consumo de bebidas alcoólicas.
Mausoléu do famoso poeta iraniano Hafez |
Rouxinóis, rosas, vinho,
achei essa uma combinação imbatível em termos de atributos para uma cidade, o que se confirmou quando vi aqueles palácios, jardins e pomares.
Poetas nasceram,
poetas escolheram morar em Shiraz, que ficou conhecida também como a capital da
literatura persa. Seus grandes poetas (Saadi, Hafez, Omar Khayyam, entre
outros), foram mundialmente conhecidos e influenciaram a literatura ocidental.
Os persas amam a poesia,
dizem que Shiraz é o único lugar do mundo em que os túmulos dos poetas são mais
suntuosos do que os dos políticos.
Rubaiyat |
Aprendi na infância a
gostar de poesia e guardo ainda um livro desfolhado e amarelado de Omar Khayyam. Lamentei, vasculhando uma
banca, ver que os iranianos subverteram a ordem da beleza: ao lado de livros de
Paulo Coelho, encontrei um Rubaiyat.
Mas, em lugar das figuras que mostravam
os haréns da Pérsia e lânguidos casais de amantes, colocaram versos do Alcorão
(vinho e corpos nus são proibidos, mesmo que os versos remetam ao tema, que
fiquem só na imaginação).
Um dos atrativos de Shiraz
é visitar Narenjestan (Jardim
Alaranjado), construído no período Qadjar (família real de origem turca que
governou a Périsia de 1785 até 1925) e que hoje abriga um museu. A suntuosidade
do palácio, com varandas revestidas de espelhos e azulejos é impressionante. Amei
as salas com cenas pintadas nas paredes. Meio escondida num minúsculo espaço
entre os corredores, está uma das poucas obras do Irã atual que não foram
sacrificadas: mostra um casal de enamorados, abraçados e nus.
O palácio fica dentro do
Jardim de Eram, outro monumento persa à beleza, hoje administrado pelo
Departamento de Botânica da Universidade de Shiraz. O magnífico pavilhão no
centro foi usado pelos governantes e monarcas persas até o final do Século
XVIII. A provável data de construção dos jardins seria durante a dinastia
seljúcida, sob as ordens do monarca Sanjar.
fotos by: Ira
foto by: Zélia Leal
O desenho do jardim, com eixos de ciprestes intercalados por laranjeiras, canteiros de rosas e pés de romã, foi criado sob inspiração da concepção persa do paraiso.
O desenho do jardim, com eixos de ciprestes intercalados por laranjeiras, canteiros de rosas e pés de romã, foi criado sob inspiração da concepção persa do paraiso.
O lado ruim é que estive lá no
inverno. Nada de rosas, nem de romãs, ou sequer rouxinóis. Apenas os ciprestes.
---
Dicas/experiências:
Turismo: Jardins de Eram (www);
Matéria na Revista Viagem & Turismo sobre minha viagem ao Irã (www)
---