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Bergen (Noruega)


Entre o mar e as montanhas com muita chuva                                                  
fotos by: Ira
          Bergen é uma cidade portuária, ponto de partida e chegada dos cruzeiros que percorrem os fjords noruegueses. Num dos navios do Hurtigruten (expresso costeiro), fizemos o trecho Tromsø/Bergen.
          Desembarcamos sob frio e chuva intensa e arrastamos nossas malas por alguns quarteirões até encontrar o endereço certo. 
          Mas, como não nos mixamos com pouca coisa, minha filha e eu saímos em seguida, devidamente entrouxadas, guarda-chuvas emprestados do hotel, para um giro pela cidade, naquela época do ano vazia e gelada. Mas, valeu a pena!
          Descobri depois, entre seus atributos Bergen é conhecida como uma das localidades mais chuvosas do mundo e seu símbolo é... um guarda-chuva. Ex-capital, uma das mais antigas e a segunda maior cidade da Noruega, Bergen mantém até hoje em seu centro histórico as marcas de sua ligação com a famosa Liga Hanseática dos tempos medievais. Seu velho cais é um dos patrimônios mundiais da Unesco.
          





          O centro da cidade é fácil de ser  percorrido a pé. O porto convida para uma das primeiras e interessantes caminhadas ao longo do píer acompanhando a faixa de água que se insinua pela cidade a dentro. 








          Ali ficam a praça do mercado e o antigo mercado de peixe (Fisketorget), atualmente, mercado de quase tudo, em meio a tendas, bares e restaurantes. É uma das principais atrações.
         


Bryggen

          Ao lado norte da baía destaca-se o antigo bairro marítimo, Bryggen, onde chamam a atenção as coloridas fachadas, quase todas em madeira, que se tornaram símbolo da cidade. As construções típicas remontam às antigas docas dos tempos medievais, quando a cidade era um importante entreposto comercial da então poderosa Liga Hanseática, que dominou o comércio europeu entre os séculos 13 e 17. 
          O principal produto local era o bacalhau.
          Armazéns, casas e galpões foram destruídos várias vezes por incêndios. Hoje restam algumas construções da época. Um quarteirão inteiro foi fielmente recuperado e reconstituído, fazendo as vezes de um museu em área aberta. Caminhar devagar pelas suas ruelas vale um passeio pelo passado.  Cercado de modernas lojas, cafés, museus, ateliês e restaurantes.
          A pouca distância do mercado de pesca vê-se Johanneskirken, uma das igrejas norueguesas com características neo-góticas.
Byparken
          


          Em direção à estação ferroviária para comprarmos nossos bilhetes para Oslo, passamos pelo Byparken, um belo parque com um lago rodeado por vários museus. Bergen destaca-se também por sua atividade cultural, com festivais de música e teatro. Foi berço e moradia do dramaturgo Henrik Ibsen e do compositor Edward Grieg, entre outros. 



          Em nossas caminhadas, deparamo-nos com diversas estátuas e monumentos que chamavam a atenção pelo inusitado.
          Bergen é cercada por montanhas e, à semelhança de Roma, é conhecida como “a cidade das sete colinas”. Infelizmente, não desfrutei uma destas atrações: o funicular que leva ao monte Fløyen, próximo ao centro histórico e de onde se tem uma vista panorâmica, ou o teleférico ao monte Ulriken, este mais afastado e o mais alto.
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Dicas/experiências:
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Morretes/Paranaguá (PR)


Caminhos de ferro                                       fotos by: Ira
Trecho Curitiba/Morretes
           

          



Tornei-me fã incondicional dos passeios sobre trilhos. São interessantes (as paisagens desfilam na janela), confortáveis, econômicos e pontuais. Lamento o sucateamento das estradas de ferro do meu país e a ausência, há décadas, de políticos com visão e coragem para devolver aos brasileiros os benefícios deste meio de transporte. Restam-nos os preços das companhias aéreas e os perigos das rodovias. 


          Enquanto isso, aproveito os poucos quilômetros dos caminhos de ferro mantidos como atração turística: de “Maria Fumaça”, já percorri Tiradentes/São João del Rey, Ouro Preto/Mariana e Curitiba/Morretes.
          
          Na capital paranaense, comprei o bilhete no dia anterior (próximo à Estação Rodoviária), pois – a depender da época – chegar no horário de partida é sinônimo de enfrentar longas filas sob o sol forte. Tem desconto para maiores de 60 anos e recebi a dica de escolher assento no lado esquerdo que garante melhores cenários no itinerário de ida. 
          Consegui uma janela do lado esquerdo. E, na hora do que seria a melhor foto, na passagem sobre uma ponte quase suspensa sobre a mata, desceu o maior nevoeiro... 
          O trem sai diariamente de  Curitiba e o trecho até Paranaguá só é feito aos domingos. A previsão da viagem até Morretes fica em torno de três horas, mas peguei uma que levou o dobro, ficamos retidos num ponto aguardando a passagem de extensos comboios de vagões de carga (o uso é compartilhado com a concessionária da ferrovia).
          O trajeto de 110 quilômetros passa por área preservada da Mata Atlântica. Cada vagão conta com um guia que fala sobre a natureza circundante e os mais de 120 anos de história da ferrovia. Os turistas recebem avisos de preparar as câmeras para os clicks: são túneis, represas, cachoeiras, ruínas, pontes e viadutos. O rio Ipiranga serpenteia a serra e mostra-se de quando em quando.
          


          Morretes parece uma miniatura de cidade encravada na serra paranaense. Fundada em 1721, distribui seus casarões e suas casas coloridas por poucas ruas. Uma praça e um coreto complementam a paisagem quase bucólica. A gastronomia é seu ponto forte, vários restaurantes servem pratos típicos, entre eles o “Barreado”, garantia de comida farta e muitos pratos à mesa.
          
          






          Depois, a sugestão é um passeio agradável na beira do rio Nhundiaquara, passar sobre (ou sob) a Ponte Velha, ou conferir as lojinhas de artesanato.
          





          Na rodoviária local peguei um ônibus e fui até Paranaguá, cidade mais antiga do Estado. Aproveitei o restinho da tarde para um passeio rápido pelo centro histórico. O porto local adquiriu importância estratégica para o país e a cidade, fundada em 1648, ganhou impulso em seu desenvolvimento com a construção da ferrovia que a liga a Curitiba.
          
Centro antigo de Paranaguá
          Pelas suas ruas, atrações como mercados, igrejas, museus, casarões coloniais, palácios e monumentos. Tem ainda, pertinho dali, a famosa Ilha do Mel.
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Dicas/experiências:
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Cruzeiro pelos fjords da Noruega (Hurtigruten)


Itinerários gelados: de Tromsø a Bergen                                              Foto by: (www)


          Os navios do Hurtigruten (expresso costeiro) cobrem o litoral recortado da Noruega partindo diariamente dos portos de Bergen, ao sul, e Kirkenes, no norte, já próximo à fronteira russa. Ambos os sentidos, na direção norte ou sul,  têm trajetos que contemplam os mais belos fjords (vales profundos entre cadeias de montanhas). Há paradas em vários portos, dá para conhecer algumas cidades, em excursões opcionais, ou escolhe-se desembarcar em qualquer  outra da rota, desde que previamente estipulado. Cada estação do ano se encarrega de preparar cenários diversos. Conheci os brancos e gelados que, imagino, desafiaram os vikings.
          Minha filha e o pai dela haviam feito o trecho Bergen/Tromsø no verão, para conferir o chamado “sol da meia-noite” e, resolveram voltar no inverno para tentar ver uma “aurora boreal”. Juntei-me a eles e fizemos o caminho inverso: Tromsø/Bergen. Depois de ter visto minha aurorinha em Tromsø, rumamos os três para o porto sob nevasca e embarcamos já quase de madrugada. Isso nem fez diferença, com a Noite Polar nossos dias eram escuros mesmo.                                                                             
         
          O MS Nordkapp, um dos navios do Hurtigruten, oferece, entre outras facilidades, sala de fitness (aproveitamos), sauna, Jacuzzis, acesso à internet. Elegemos como melhor posto o imenso salão envidraçado na proa, com janelões que permitem observação em 180 graus. Ah, por mim, ficaria ali “para sempre” (como a propaganda de cerveja). Esta é uma noção de eternidade que me agrada: deixar-se estar confortavelmente recostada, embalada ao ritmo constante do motor, tendo à frente paisagens móveis que se sucedem indefinidamente.                                                  
                                                                                                                                       fotos by: Ira
Gostei especialmente das pinturas do norueguês Karl Erik Harr espalhadas em vários ambientes.
          O navio segue sempre próximo da costa. Nos primeiros trechos, a neve teimava em cair continuamente, ninguém arriscava botar o nariz nas áreas externas. Pelas janelas panorâmicas, eu via sempre montanhas brancas, às vezes de ambos os lados no navio quando passávamos pelos fjords.
          Fomos todos convidados a participar de uma atividade que marcaria a passagem pelo Círculo Polar Ártico. Muitos acordaram cedo e dirigiram-se ao deck. Muitos voltaram correndo para o interior aquecido. Ficaram  lá fora os corajosos, entre eles minha filha. Ela queria fazer jus a um brinde que só seria entregue a quem engolisse algo de olhos fechados, coisa que fez mais por não entender nada de norueguês. Voltou de nariz torcido depois de ter experimentado pela primeira vez (blarghs!) óleo de rícino.
          Pelo caminho, várias paradas, cidadezinhas de nomes estranhos. Arriscamos algumas saídas, cheias de roupas e coragem. Invariavelmente, enfrentamos escuridão, caminhos escorregadios de gelo, frio, nevascas. Visitamos o Museu do Gelo, em Svolvær, cidadezinha no arquipélago Lofoten
          Vestimos roupas especiais para enfrentar cerca de - 6°C, temperatura que permite manter as esculturas e até um bar todo equipado com móveis e recipientes de gelo. Descobrimos depois que lá fora, de onde chegamos, o frio era mais intenso do que no interior do museu.
                                                                                                     (Svolvær)                                                   
Museu do Gelo
 Isadora atende meu pedido e faz pose de Rainha da Neve          
Em Sandnessjøen, adorei ser envolvida pela neve por todos os lados, 
ela entrava até nos olhos
Paisagens antes só vistas em cartões postais
          Quando, num dos portos, anunciaram pelos alto-falantes que ficaríamos ancorados ali durante toda a noite para evitar uma forte tempestade que se aproximava, achei ótimo. Fui dormir tranquila, com o balanço suave do navio sobre as ondas mansas do cais.
          Acordei cedinho, escutei o ronronar das máquinas e entendi que o navio zarpara. Mas, logo tive a sensação de andar de montanha-russa, pela cabine caía tudo o que não estivesse preso. Espiamos pela janela, vimos só vento, escuridão e ondas negras gigantescas. Meu estômago parecia querer sair pela boca, corremos a ler os avisos pregados na porta orientando como vestir os coletes salva-vidas e dirigir-se aos botes. Minha filha fez uma volta de reconhecimento pelos corredores e, quando retornou, ficamos até envergonhadas: os demais achavam aquilo absolutamente normal. 
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Dicas/experiências:
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Museu do Gelo - (www
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