Os navios do Hurtigruten (expresso costeiro) cobrem o
litoral recortado da Noruega partindo diariamente dos portos de Bergen, ao sul, e Kirkenes, no norte, já próximo à fronteira russa. Ambos os
sentidos, na direção norte ou sul, têm trajetos
que contemplam os mais belos fjords
(vales profundos entre cadeias de montanhas). Há paradas em vários portos, dá
para conhecer algumas cidades, em excursões opcionais, ou escolhe-se
desembarcar em qualquer outra da rota,
desde que previamente estipulado. Cada estação do ano se encarrega de preparar cenários
diversos. Conheci os brancos e gelados que, imagino, desafiaram os vikings.
Minha filha e o pai
dela haviam feito o trecho Bergen/Tromsø no verão, para conferir o
chamado “sol da meia-noite” e, resolveram voltar no inverno para tentar ver uma
“aurora boreal”. Juntei-me a eles e fizemos o caminho inverso: Tromsø/Bergen. Depois de ter visto minha aurorinha em Tromsø, rumamos os três para o porto sob nevasca e embarcamos já quase de madrugada. Isso
nem fez diferença, com a Noite Polar nossos dias eram escuros mesmo.
O MS Nordkapp, um dos navios do Hurtigruten, oferece, entre outras facilidades, sala
de fitness (aproveitamos), sauna, Jacuzzis, acesso à internet. Elegemos
como melhor posto o imenso salão envidraçado na proa, com janelões que permitem observação em 180 graus. Ah, por mim, ficaria ali “para sempre” (como a propaganda de
cerveja). Esta é uma noção de eternidade que me agrada: deixar-se estar confortavelmente recostada, embalada ao ritmo constante do motor, tendo à frente paisagens móveis que se sucedem
indefinidamente.
fotos by: Ira
Gostei especialmente das pinturas do norueguês Karl Erik Harr espalhadas em vários
ambientes.
O navio segue sempre próximo da costa. Nos
primeiros trechos, a neve teimava em cair continuamente, ninguém arriscava
botar o nariz nas áreas externas. Pelas janelas panorâmicas, eu via sempre
montanhas brancas, às vezes de ambos os lados no navio quando passávamos pelos fjords.
Fomos todos convidados a participar de
uma atividade que marcaria a passagem pelo Círculo Polar Ártico. Muitos acordaram
cedo e dirigiram-se ao deck. Muitos
voltaram correndo para o interior aquecido. Ficaram lá fora os corajosos,
entre eles minha filha. Ela queria fazer jus a um brinde que só seria entregue
a quem engolisse algo de olhos fechados, coisa que fez mais por não entender
nada de norueguês. Voltou de nariz torcido depois de ter experimentado pela
primeira vez (blarghs!) óleo de rícino.
Pelo caminho, várias paradas, cidadezinhas
de nomes estranhos. Arriscamos algumas saídas, cheias de roupas e coragem. Invariavelmente,
enfrentamos escuridão, caminhos escorregadios de gelo, frio, nevascas. Visitamos
o Museu do Gelo, em Svolvær, cidadezinha no arquipélago Lofoten.
Vestimos
roupas especiais para enfrentar cerca de - 6°C, temperatura que permite manter as esculturas e até um bar todo
equipado com móveis e recipientes de gelo. Descobrimos depois que lá fora, de
onde chegamos, o frio era mais intenso do que no interior do museu.
(Svolvær)
Museu do Gelo Isadora atende meu pedido e faz pose de Rainha da Neve |
Em Sandnessjøen, adorei ser envolvida pela neve por todos os lados, ela entrava até nos olhos |
Paisagens antes só vistas em cartões postais |
Acordei cedinho, escutei o ronronar das
máquinas e entendi que o navio zarpara. Mas, logo tive a sensação de andar de montanha-russa, pela cabine caía tudo o que não estivesse preso. Espiamos pela
janela, vimos só vento, escuridão e ondas negras gigantescas. Meu
estômago parecia querer sair pela boca, corremos a ler os avisos pregados na
porta orientando como vestir os coletes salva-vidas e dirigir-se aos botes.
Minha filha fez uma volta de reconhecimento pelos corredores e, quando
retornou, ficamos até envergonhadas: os demais achavam aquilo
absolutamente normal.
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Dicas/experiências:
Turismo: Hurtigruten - (www)
Museu do Gelo - (www)
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