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Da Sicília à Calábria

Da Sicília à Calábria - II
Volta Pela Europa em 126 dias - Parte VII
Tropea
Minha paixão por Tropea (a lenda conta ter sido fundada pelo herói mitológico Hércules) aconteceu assim que desci na estação e percorri a rua principal em direção à praia. Essa é, aliás, a atividade social preferida dos turistas e moradores: percorrer incontáveis vezes a extensão do Corso Vittorio Emanuele até o ponto em que a rua termina abruptamente numa espécie de promontório gradeado de onde se vê a praia lá em baixo, a dezenas de metros. Admira-se esta vista, retorna-se e se repete tudo de novo tomando um gelato.
Neste curto trajeto, vi os primeiros turistas da estação atraídos como abelhas pelo néctar. Os pórticos de suntuosos palácios medievais, antigas residências da nobreza, hoje servem de entrada para dezenas de lojas e estas se abrem enfileiradas de ambos os lados da rua. À mostra, brigam por um espaço peças do artesanato local, caixas de frutas, antigos brinquedos mecânicos, roupas e produtos alimentares típicos, como salames, doces e pães caseiros.
A gastronomia é apreciada especialmente pela produção de uma qualidade de cebola vermelha, a cipolla di Tropea, de sabor adocicado e utilizada em grande variedade de pratos. As gelaterias fazem inclusive sorvete de cebola. Outro produto conhecido é o saboroso salame picante conhecido como nduja.
                                                                                             foto by: 

A cidade, como muitas outras na Itália, foi erguida sobre penhascos acima do nível do mar. Assim, para quem a vê de um plano inferior, sua beleza chega a ser estonteante. Não por acaso, esta parte do litoral é chamado Costa Degli Dei (Costa dos deuses). O balneário famoso e suas paisagens atraem levas de turistas no verão, grande parte oriunda da vizinha Alemanha. À tardinha, um programa local é apreciar o por-de-sol sobre o mar Tirreno, tendo ao fundo a silhueta do vulcão Stromboli. Alguns ficaram incrustrados nas minhas retinas de forma indelével como momentos mágicos.
Minha temporada em Tropea foi a mais econômica da viagem porque Elke apresentou-me à suora Domênica, uma ativa freirinha em seus 80 anos, que gerencia um antigo monastério em pleno centro histórico. Ela faz sozinha todo o serviço, cozinha, lava e passa, faz faxina, dá aulas de italiano para crianças e recebe alguns turistas como hóspedes.
Fiquei numa ala do prédio com um pequeno quarto, fogão, geladeira, banho e, de quebra, um amplo terraço do qual eu tinha uma visão panorâmica da praia. Tropea foi o lugar perfeito para descansar dos dois meses anteriores de viagem e preparar o itinerário para os seguintes.
Consegui meu propósito inicial que era permanecer por uns dias num local em que eu pudesse transitar como se ali morasse. Freqüentar a padaria, o supermercado, conversar em italiano e tentar melhorar o que aprendi. Troquei durante 15 dias a rotina de arrastar malas e percorrer estações de trem por passeios pela praia e pelas ruelas, admirando a arquitetura do lugar.
Tive que aprender a fazer a “sesta”, pois no horário entre meio-dia e quatro da tarde fechavam-se portas, janelas e postigos. O comércio reabre, preguiçosamente, em torno das 17h e só fecha lá pelas 22h. Olga, uma das hóspedes, convidou-me a conhecer as vizinhas cidades de Pizzo Calabro, onde se come tartufos especiais e Scilla, onde visitamos um castelo sobre a rocha e caminhamos pelo casario de pescadores. 

                                 










Scilla





Olga deu o nome de Scilla a uma de suas filhas e explicou-me que, segundo a mitologia grega, Scilla e Caribdis eram dois monstros marinhos que habitavam nos lados opostos do estreito de Messina. Personificavam os perigos da navegação próximo de rochas e redemoinhos.
Em Tropea conheci também a francesa Michele que, descobri depois, é cantora de jazz e tem músicas e shows gravados com a banda Mad Losa. Vale a pena ouvi-la cantando Sunny.
Passamos um dia na praia de Capo Vaticano, na vizinha Ricadi, com água tépida e de uma cor verde-azulado indescritível, pois não tenho referência nos meus padrões de cores. A praia era um pouco distante da estação, mas, assim que descemos do trem conseguimos uma carona.
                                                                                             foto by: 
                                                                                         Michele

No final da tarde, quando retornamos, descobrimos que o próximo trem partiria somente dali a umas duas horas. Então, Michele me fez voltar aos tempos de pedir carona na beira da estrada com o polegar levantado. Eu, um pouco intimidada, ela fazendo duplo papel, levantando junto o meu braço. Disse que fazia questão da minha participação na empreitada.
Sofremos um bom tempo ali, de um lado a outro na estrada, sob o sol forte, vendo os carros passarem sem parar. Até que, afinal, um italiano simpático fez retorno, perguntou para onde estávamos indo e nos levou até Tropea. No caminho, explicou que “por ali” nossa estratégia não funcionava, pois pedir carona não fazia parte dos costumes locais.
Mas, como se vê, funcionou.
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Mais sobre Itália, no blog, em:
Costiera Amalfitana
Peschiera (Lago di Garda)
Roma
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Dicas/experiências:
No centro histórico de Tropea, o Max Bar oferece uma taça de vinho, com um prato de petiscos, mais internet free por € 5,00.  
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