Turista continua tendo acesso a coffee shops na capital holandesa
fotos by: Ira
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Av. Damrak, proximidades da Central Station, Amsterdam |
Amsterdam tem
múltiplas atrações para além da beleza dos seus canais, dos museus e da
arquitetura peculiar. Mas, dizem, grande parte dos turistas quer mesmo é aproveitar a política
de tolerância local para com o consumo -
por adultos - de drogas como hash
(haxixe) e cannabis (maconha) nas centenas de coffee shops espalhados pela cidade.
A nova legislação do governo que pretendia transformar esses estabelecimentos em clubs restritos para residentes começa a fazer água, após ser implementada em maio de 2012 em algumas províncias com a previsão de
estender-se a todo o país em 2013. Houve alterações abrindo espaço para decisão final das prefeituras e a de Amsterdam anunciou que não vai adotar.
Assim como ainda
existe quem pensa em entrar num coffee
shop para pedir um café (embora algumas lojas até ofereçam), está enganado
quem acha que as drogas são totalmente liberadas na Holanda. Não o são, tanto a
produção quanto o comércio ou o consumo são ilegais. Por diversas razões, as
autoridades fazem “vista grossa” para o consumo de drogas consideradas leves no
interior dos coffee shops e sob
estritas condições, o que dá a tudo um ar de legitimidade.
Para funcionar,
esses estabelecimentos de comércio varejista precisam obter uma licença que os
autoriza a vender até 5g de haxixe ou maconha por pessoa e a manter um máximo
de 500g no estoque, sendo proibido o comércio no atacado. Não podem vender
álcool nem drogas pesadas (cocaína, heroína, anfetaminas e LSD). Drogas
vendidas ou consumidas na rua são proibidas e punidas (cada pessoa pode portar
cerca de 30g), assim como distúrbios provocados por pessoas drogadas.
O número de
autorizações para funcionamento dos coffee
shops vem diminuindo gradativamente como parte das medidas governamentais
para retirar da Holanda a imagem de paraíso do consumo de drogas na Europa. A
nova legislação veio em resposta às queixas de países fronteiriços, como
Alemanha e Bélgica, incomodados com o tráfico e o vai-e-vem de estrangeiros que
se dirigem a Amsterdam atraídos pela cannabis.
Não precisaria
explicar que não foi o meu caso. Mas, a primeira coisa que despertou
minha atenção quando desci na exuberante estação central, vinda do aeroporto, foi o indefectível cheiro de maconha nas ruas. Isso que era cedo da manhã. O odor parecia exalar
de todos os prédios e em todas as direções.
Entre os passeios
que escolhi durante minha estada, deixei-me levar pela curiosidade e numa noite
juntei-me a um grupo num tour pelos
caminhos da cannabis: um casal
australiano, um rapaz americano, duas inglesas, mais um brasileiro. O guia nos conduziu
por diversas ruas, mostrou locais de consumo, explicando pelo caminho a
complexa política de tolerância dos holandeses e algumas regras de etiqueta
(não escritas) para estrangeiros. Primeira, óbvio, evitar confusão. Depois, não
portar mais de 30g, não usar drogas pesadas. Atentar para o fato de que as
ervas locais costumam ser fortes e que o freguês pode ser vítima de trapaças na
quantidade de maconha adicionada a um inofensivo brownie. Não é de bom-tom permanecer num coffee shop sem consumir algo, e por aí vai.
No final do passeio,
o guia com naturalidade aponta para um coffee
shop e informa que, caso alguém do grupo queira conhecer, aquele seria um
dos locais recomendáveis. Entreolhamo-nos durante alguns segundos e decidimos tacitamente
– e por unanimidade - entrar. O guia, então se despediu e ficamos por nossa
conta.
Fomos entrando devagar, observando o que fosse possível naquela
atmosfera enfumaçada e com pouca luz. Instalamo-nos ao redor de uma mesa no
andar superior e ficamos olhando um para a cara do outro, tentando puxar
conversa que fizesse sentido entre seis desconhecidos naquela circunstância.
Depois descemos, os pedidos tinham que ser feitos – e pagos - diretamente no
caixa.
Ah, eu queria muito
ver o tratamento dado a uma senhora de 60 anos e imaginava como seria isso no Brasil. Fui
positivamente surpreendida com atendimento pra lá de cortês. O freguês recebe
um cardápio com os tipos de ervas vendidas e explicações detalhadas sobre sabores,
misturas, efeitos. O atendente faz perguntas sobre experiências anteriores
antes de indicar a sugestão (personalizada) da casa, que ainda fornece itens como tabaco para misturar ao produto, papel de seda e um porta-cigarro para guardar o que não for totalmente consumido.
Ao sair na rua, me
dei conta de não ter prestado atenção ao itinerário e à localização quando o
guia nos deixou. Não sabia para que lado ficava o albergue. Depois de muitas
voltas, idas e vindas, tive que perguntar para alguém. Usei a minha melhor cara
de paisagem.
Um exemplo da forma como é encarado o assunto em Amsterdam é a realização anual, sempre no mês de novembro, de uma Copa Mundial da Maconha, quando os produtores têm oportunidade de mostrar suas competências. Em 2012, a Cannabis Cup comemora 25 anos e ocorre entre os dias 18 a 22 de novembro. Há seminários e fóruns de discussão sobre cultivo e utilização do cânhamo nos mais diversos setores, da indústria à saúde, além de intensa programação musical.
Para os aficionados, há ainda um Museu da Maconha.
Para os aficionados, há ainda um Museu da Maconha.
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Dicas/experiências:
(www) - Site oficial do Cannabis College
(www) - City tours
(www) - Informações sobre a Cannabis
Cup 2012
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