(Melhor bem acompanhada do que só...)
Fazia um mês e meio que eu estava na Europa para a
minha primeira e sonhada viagem pelo mundo. Sem saber direito como fazer isso
sozinha, eu vinha dando um jeito de continuar em boa companhia. Passei alguns dias
com minha filha, em Londres; uma semana na casa de amigos em Paris; fiz um
giro pelo Reino Unido com minha amiga Lais e, enfim, juntei-me a um grupo de
amigos de Florianópolis que fazia turismo pela Itália.
fotos by: Ingri Boll
Edel, Abelardo, Susy e eu |
Partimos de Roma num carro alugado em direção à
Toscana, tendo pelo caminho aquelas paisagens já vistas em filmes e revistas. Divertimo-nos quando a
Susy parou e quis descer pensando ter encontrado um belvedere para admirar o panorama. Era apenas uma pequena colina,
igual a dezenas de outras e perdida em meio a uma plantação de oliveiras.
Susy e Abelardo treinando para frentistas |
Passamos por muitos pedágios. No início, tínhamos
dificuldade de identificar a tempo em qual fila deveríamos entrar e achamos diferente abastecer pelo método self-service
nos postos automatizados.
Pelo menos em uma das vezes a máquina “engoliu” €
50,00 e travou. Num domingo. Por sorte,
a atendente de uma cafeteria nas proximidades aceitou ficar com nosso ticket para se ressarcir no posto no dia seguinte. Ufa! Recuperamos
nossos preciosos euros.
Primeira parada: San Gimigniano , cidade em estilo medieval que me pareceu uma miniatura
de ruas em labirinto. Um
espiral de brinquedo: uma pequena praça, um poço, um castelo rodeado por
ruelas e casinhas, tudo circundado por uma muralha imensa. Depois, vi que este
modelo de cidade é bem comum em vários países da Europa. Mas, San Gimigniano
foi a primeira e ficou com o privilégio da lembrança inesquecível.
fotos by: Susy Schaefer
Conhecemos também Pisa, Verona, Florença, Pádua. Em
Pisa, fiz bastante fotos, para me vingar da viagem anterior, quando apenas pude
passar pela cidade à meia-noite, sem chance de ver a torre famosa por causa de
uma greve de trens que atrasou nossa saída de Veneza. Em Verona, outra cidade
em estilo medieval, cheia de ruazinhas por onde nos perdemos (mesmo com um
mapa), ficamos um tempão procurando a Casa de Julieta.
Ao chegarmos a Florença, meus amigos se
instalaram em um agradável Bed & Breakfast estilo familiar (os
proprietários residem ali e gerenciam o hotel, que funciona no piso superior).
Mas, não havia mais vaga quando tentei reserva pela internet quase em cima da hora.
O albergue em que consegui ficava muito distante, ao contrário do que informava
o site e a infra-estrutura se mostrou
muito abaixo da minha expectativa.
Decepcionada, pedi cancelamento, mas tive que pagar pelos
pernoites e ganhei só um descontinho mixuruca depois de muito choro. Nova lição
da Itália: “quem erra paga”, disse o rapaz, pois expliquei ter me equivocado ao fazer reservas
sem conferir direito as informações no site.
Ruim também para o Abelardo, que havia arrastado minha mala pelas ruas, foi
difícil encontrar o endereço, tivemos que dar muitas voltas. Terminamos retornando
ao hotel do grupo onde dividimos um quarto (cama extra) Susy, Edel e eu. Pena
que ninguém conseguiu dormir por culpa de uma tosse que me acometeu por umas
três noites.
Proximidades da Galeria degli Uffizi |
Em Firenze, cumprimos roteiro tradicional de
turistas. Visitamos a catedral, o duomo, caminhamos pelas ruas, consultamos os
mapas mil vezes, conseguimos até pegar ônibus e circular pela cidade.
Timidamente, eu começava a usar o italiano que havia aprendido.
Não houve consenso (nem haveria tempo) para aguardar na fila e comprar tickets para entrar no famoso museu. Ficou para uma próxima oportunidade. Fizemos um passeio ao alto de uma colina e desfrutamos uma privilegiada vista panorâmica da cidade.
Seguimos para Assis, onde visitamos a Basília de São Francisco e o mosteiro.
Em Pádua, a programação previa sair dali para passeios de ida e volta e Cortina D’Ampezzo e Peschiera, próximo ao Lago di Garda. Nesta última cidade, visitaríamos Marta, uma brasileira amiga da Ingri e que está morando na Itália.
Timidamente, eu começava a usar o italiano que havia aprendido.
Não houve consenso (nem haveria tempo) para aguardar na fila e comprar tickets para entrar no famoso museu. Ficou para uma próxima oportunidade. Fizemos um passeio ao alto de uma colina e desfrutamos uma privilegiada vista panorâmica da cidade.
Edel e eu interessadíssimas nos doces da vitrine |
Seguimos para Assis, onde visitamos a Basília de São Francisco e o mosteiro.
Em Pádua, a programação previa sair dali para passeios de ida e volta e Cortina D’Ampezzo e Peschiera, próximo ao Lago di Garda. Nesta última cidade, visitaríamos Marta, uma brasileira amiga da Ingri e que está morando na Itália.
No caminho de Cortina D'Ampezzo |
Parada para fotos a caminho de Cortina D'Ampezzo. Edel queria muito ver a cadeia de montanhas Dolomitas. Quando chegamos, fazia o maior frio e começou a chover. Mal conseguimos dar umas voltinhas pela cidade, tivemos que voltar correndo para o carro.
Até então, eu não tinha conseguido decidir por
onde começar minha viagem sozinha. Em breve o grupo se dividiria, eles seguiriam para Veneza e Paris, depois retornavam ao Brasil.
Chegava a hora da despedida, eu pretendia seguir para o sul da Itália. Mas precisava decidir logo pelo menos qual o destino seguinte para poder fazer as reservas de passagens e albergues. Não conseguia, estava "travada". Então, entra em cena o imponderável: Ingri conversou com sua amiga Marta para que me recebesse por uns dias dando-me o tempo que eu
precisava.
Foi em Peschiera,
assim, que comecei a etapa a sério da minha viagem, minha primeira experiência
em fazer turismo sozinha.
Com Marta e o namorado passeamos
por Peschiera e em outra
cidadezinha ali perto, Sirmione,
depois fomos todos jantar numa pizzaria. Meus amigos foram embora, retornaram a
Pádua, e eu fiquei. Serei sempre agradecida à Marta e às duas brasileiras que moram com ela, Mariana e sua filha
Danielle, pelo gesto de me receberem em casa mesmo sem me conhecer.
A generosidade delas deu o toque de confiança e o
empurrão que eu estava precisando. Talvez, se não fossem elas, meu começo
tivesse sido outro e alterasse a rota inteira da minha viagem.
Danielle me emprestou seu quarto (meiga adolescente, gente fina). Mas, na verdade, eu estava me sentindo bem perdida, um tanto
assustada. Estranhando a cidade, minha nova condição de viajante solitária,
tudo. Sentia-me desconfortável por estar na casa de pessoas que eu acabara de
conhecer. E, sobretudo, não tinha um rumo definido e não sabia bem o que fazer
dali para diante. Vontade de voltar correndo pra casa e esquecer de vez essa história de ficar viajando sozinha por aí.
No dia seguinte, Marta revelou-se uma
anfitriã pra lá de gentil. Levou-me ao centro, mostrou-me a padaria, o mercado,
a estação de trem, ponto de ônibus. Deu-me uma cópia da chave e seguiu para
seus afazeres. E eu, apavorada, ainda sem saber o que fazer ou decidir.
Marta, anfitriã e fada-madrinha |
Logo que ela me deixou, voltei quase correndo - como um cachorrinho - pra não esquecer o percurso. No mapa que peguei no centro de informações
turísticas não constava o nome da rua, fiquei com medo de esquecer por onde
andamos, já que passei conversando, distraída. Senti a maior satisfação quando, refazendo o trajeto, consegui encontrar o endereço onde estava hospedada. Afe! Só então relaxei e retornei ao centro da cidade
um pouco mais tranquila. foto by: Marta Netto
Peschiera del Garda |
Mas achei-a um tanto “turística” demais para meus planos. Só via lojas, hotéis, bares e restaurantes e eu vinha mantendo o orçamento apertado, pois teria ainda mais de dois meses de viagem pela frente.
Não queria abusar da hospitalidade por muitos dias. Também não queria me comprometer fazendo reserva em algum albergue local sem ter certeza se ficava ali ou não. Na verdade, eu ainda não me via como "turista". Procurava um lugar com preço acessível onde eu pudesse permanecer tranquilamente por uns dias para descansar (estava viajando há mais de 30 dias), refletir e traçar meu rumo.
Durante a longa caminhada, fui me dirigindo até a estação de trem e terminei comprando passagem para Milão, primeira cidade que escolhi conhecer. Amigos haviam dito que não era uma cidade bonita ou interessante e que eu não iria gostar, mas apostei na escolha. Sem me dar conta naquela hora, estava afinal decidido o impasse: eu não ficaria por mais tempo em Peschiera. fotos by: Ira
Lago di Garda |
Limone sul Garda |
Ter decidido seguir em frente foi minha primeira conquista.
Fui acrescentando outras a partir de então. Mais me valeu o fato de ter estado sozinha durante algum tempo do que propriamente os lugares por onde andei. Durante os quatro meses que durou toda a minha viagem estive em quatro países e percorri 40 cidades. Das 20 regiões em que se divide a Itália, conheci dez. As restantes, ficam para as próximas aventuras.
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