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Tombos & Quedas

Gravidade "10" X eu "O"

          Sou boa nisso, tropeços e quedas. Consigo cair em qualquer latitude e hemisfério. Numa pesquisa rápida posso listar vários tombos que me deixaram pontos doloridos e marcas roxas, mas fizeram rir a quem estava por perto para ver. Meu primeiro embate com a Lei da Gravidade foi ainda por volta dos cinco anos de idade. Eu tinha uma cadeira-de-balanço de palha trançada que eu adorava e nela me embalava sempre e muito rápido. Para incrementar aquela sensação boa, contra todos os princípios do equilíbrio e da gravidade inventei de “andar” com ela, mas sem encostar os pés no chão.
Agarrei-me nos dois braços da cadeira, inclinei-a rapidamente para trás e para a frente, tomei impulso e dei o maior salto que consegui tentando ao mesmo tempo “caminhar” no ar. Claro, me estatelei no chão com uma lasca de madeira enfiada atravessada na bochecha direita. Sorte minha ter sido criada num hospital. Fui logo socorrida, suturada e devolvida à minha criatividade - desprovida de senso - com uma cicatriz no rosto que só foi desaparecer lá pela adolescência.
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Cair na neve acho que nem conta, todo mundo cai. Minha única experiência com esquis foi meteórica, levou poucos segundos. Só o tempo de calçar e cair, com as quatro patas para cima, igual a uma barata tentando se desvirar. 






Mount Bachelor, Oregon (Estados Unidos)
                                                                                       
Consegui fazer a mesma coisa - sem os esquis - em plena Praça da Matriz em Porto Alegre. Fiquei ali vários minutos tentando levantar enquanto quem estava comigo ria, até que um transeunte me ajudou. Durante uma festa, na casa de amigos, caí da rede segurando uma taça. De costas, bati forte com a cabeça num vaso, ganhei um “galo” dolorido na cabeça, mas não derramou uma gota do champagne.
Em Florianópolis, tropecei num degrau, caí de bruços e deslizei vários metros pela calçada como se estivesse “pegando jacaré” na praia. O amigo que estava comigo, depois de me juntar do chão, perguntou várias vezes com ar preocupado se eu “estava bem”. Quando teve certeza, lascou: “ah, então agora posso rir, porque foi muuuito engraçado!”.
Outra vez, fui tropeçando em etapas sucessivas até que – por sorte – um homem que passava ao lado segurou forte no meu braço e impediu mais um tombo certo. Mas, eu vinha em processo de queda livre desenfreada e a cena resultou em rodopios do par pela calçada durante alguns segundos, os dois agora tentando se equilibrar. Pareceu a quem olhava que estivéssemos dançando um tango sem música.
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Cultivo marcas das viagens que me farão lembrar para sempre desses lugares onde estive e lá deixei gotas de sangue e raspas de pele, as mais das vezes dos joelhos. Tenho cicatrizes de quedas em uma rua na Ilha da Páscoa e em uma calçada de Rouen, na França.
                                  Joelhos esfolados em Rapa Nui (Ilha da Páscoa)
                                          
Em Liverpool, caí de cara e dentes no asfalto. Estilhaçou a lente dos óculos de sol, por sorte ficando tudo só no susto e em mais uma mancha roxa no rosto. A amiga que estava comigo, médica, pensou que eu tivesse sofrido uma síncope, pois, numa queda, as pessoas “normalmente” usam os reflexos e estendem os braços protegendo o rosto. Segundo ela, “ninguém cai pra frente com a cara no chão” a não ser que tenha sido vitimada por um mal súbito.
Em Buenos Aires, posando para uma foto perto da Casa Rosada, minha amiga com a câmera na mão vai orientando: “mais para trás”, “um pouco para a direita”. Quando dá o click não me enxerga. Vai olhar, estou amontoada num canteiro de flores no qual tinha acabado de tropeçar.
                                                                        Fotos by Lais Legg
    Depois da queda, 
        em algum canteiro perto da Casa Rosada 
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