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Paris

Paris é sempre uma festa!

Parodiando Hemingway, eu acho que a cidade exala, sim, um ar de festa como se os dias fossem sempre domingo. E oferece uma variedade incrível de atrações, entre outras: monumentos (Tour Eiffel, Arco do Triunfo, La Défense), igrejas (Notre-Dame, Sacré-Coeur, Sainte-Chapelle), museus (Louvre, d’Orsay, Rodin), palácios, praças, parques e jardins. À noite, os visitantes podem se deixar seduzir pelos chamarizes da ópera, do teatro, dos shows e dos famosos cabarés.
É possível conhecer seus atrativos em caminhadas e prolongadas pausas à mesa de um café, ou num bistrô, sentando-se de preferência do lado de fora, nas cadeiras voltadas para a rua. Assim, se pratica o esporte típico local: fazer nada, aspirar o ar, olhar quem passa, jogar conversa fora, ler um jornal. Ser visto nesses locais também conta. Melhor tirar uma foto. Se estiver muito calor, dá para espichar-se sob o sol às margens do Sena como fazem os parisienses.
Fotos by: Isadora Pamplona
Parc Montsouris e Jardin du Luxembourg são lugares perfeitos para espairecer. Tem ainda a Praça Vendôme (endereço de bancos e joalherias para a camada exclusiva que tem muito dinheiro) e a praça dos artistas em Montmartre. Para flanar, há os bulevares St. Michel e St.Germain com seus restaurantes e cafés. Há locais com charme próprio como o Le Procope, intitulado o café mais antigo do mundo, ou o Deux Magots, que ganhou fama,  desde a década de 1950, por seus freqüentadores artistas e intelectuais.

No item museus, o Louvre vem reunindo seus tesouros há mais de 400 anos: arte grega, romana, esculturas (Vênus de Milo, Vitória da Samotrácia), pinturas (Leonardo da Vinci e sua Mona Lisa) e múmias, entre outros. No Museu d`Orsay, pode-se apreciar a coleção de obras dos Impressionistas, mais objetos de Art Noveau. É de não perder a oportunidade de conferir, no Museu Nacional da Idade Média, peças de arte medieval, como a série de tapeçarias do século XV, além de seus jardins inspirados na época.
Museu do Louvre -
      Vitória da Samotrácia


Museu D'Orsay -
      Bailarina, de Degas












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Quando o assunto é gastronomia, e se está num país que é referência em culinária, há muito para experimentar. Num passeio pela rua Saint Louis, na ilha de mesmo nome, vale uma janta no Nos Ancêtres Les Gaulois, endereço certo para grandes apetites. Como entrada, sortimento de saladas e um bufê de charcuterie estão à disposição do cliente, que pode servir-se à vontade, inclusive do vinho da casa (em um barril). Depois, carnes grelhadas, tábua de queijo, frutas e sobremesa. 
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Aprouve aos deuses que, durante a viagem que me proporcionei pelos meus 60 anos, eu pudesse incluir duas estadas na capital francesa por obra e graça de um casal de amigos: uma no início e outra no final do meu roteiro. Foram 22 dias de imersão, quase uma overdose de Paris. Vera e Pedro, obrigada pelo privilégio da amizade e pelo gesto magnânimo! A vocês, toda a minha gratidão será sempre pouca.
                                                                           Foto by: Pedro Gouvea
                                        Verinha, amiga de todas as horas
                                       Foto tirada da varanda do apê do casal,
                              na Rue du Champ de L'Alouette
Confortavelmente instalada no recanto dos meus amigos e na ausência deles, dediquei-me a palmilhar ruas e quarteirões até quase a exaustão, admirando cada detalhe, olhando ao redor com olhos de criança que vê tudo pela primeira vez. Retornava à tardinha, exausta e feliz, passava na boulangerie e comprava uma baguete.
      Fiz o tão sonhado passeio pelo Sena ao meu modo. Sentei num dos lados do barco, nem precisei descer em nenhum dos pontos sugeridos, pois tinha todo o tempo do mundo. Paris era só minha. Retornei ao ponto de partida, troquei de lado e admirei tudo de novo sob diferente ângulo de observação.
            Simplesmente deixar-se andar pelas ruas da cidade oferece uma rica experiência cultural. A par da arquitetura e dos prédios com suas referências históricas, encontra-se em vários pontos sinalização característica explicando “aqui morou” tal e tal artista, ou cientista, “este bairro formou-se a partir desta rua”, etc... 

     Descobri passeios a pé, gratuitos e com guias locais (eles aceitam gorjeta, aliás vivem disso, mas deixam a gente bem à vontade sobre o valor e sai bem mais em conta do que um city tour). Os encontros são marcados em determinados pontos todos os dias, faça sol ou chuva. Fiz com eles dois itinerários:

1) Notre-Dame - com detalhes sobre a história e arquitetura do prédio, referências religiosas e significado das imagens nos pórticos. É mencionada a importância de Victor Hugo para a recuperação da catedral (que passou por um período de completo abandono) ao escrever a história de Quasímodo e Esmeralda no romance Nossa Senhora de Paris (entre nós conhecido como O Corcunda de Notre-Dame). Fizemos um breve circuito guiado pelo entorno e chegamos até a casa onde supostamente viveram Abelardo e Heloísa.
                                          De colete rosa, a guia Ágathe
2) Quartier Latin – o grupo é conduzido por entre as ruas do bairro, com paradas explicativas nos marcos importantes, como as famosas faculdades. Tem pausas para fotos e dicas com um toque de “informação confidencial”, pois, como moradores, obviamente eles conhecem bem a cidade. Numa esquina, perto de onde teria morado Edmond Rostand, é improvisada - com a participação dos integrantes do grupo - uma encenação rápida do Cyrano du Bergerac. Bom para descontrair e dar algumas risadas.
                                             De colete rosa, a guia Virginie
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O Marco Zero fica bem em frente à catedral, cenário de O Corcunda de Notre Dame. Quando estávamos por ali, há alguns anos, vimos um policial, a cavalo, perseguir e prender uma cigana arrastando-a, numa situação um tanto constrangedora para o público aglomerado em volta. Supostamente ela teria roubado algo. Achamos esquisito mas, só bem mais tarde ocorreu que talvez tudo fosse uma encenação para turistas. Muita semelhança com a história da Esmeralda. Será?



                                                                                                             Foto by: Isadora Pamplona        

       
Do alto da catedral, uma bela vista panorâmica. Aliás, minha filha inventou um tour temático (Paris vista do alto) e subimos (óbvio) na Torre Eiffel, no Arco do Triunfo,  Galerias Lafayette, La Defense, Sacre Coeur e Tour Montparnasse.

          Ah, tem ainda o endereço predileto das turistas, as Galerias Lafayette,  cultuado templo de compras que tem a cara de Paris. É uma loja de departamentos na medida para quem não dispõe de muito tempo para as compras, pois oferece tudo num só quarteirão nas vizinhanças do teatro Opera Garnier. Do último andar do prédio principal (cúpula), tem-se uma ótima vista de Paris (vê-se do alto o teatro Opera e, ao lado oposto, Montmartre e a igreja de Sacre-Coeur).
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Dicas/experiências:
Turismo:
Informações, site oficial:
Passeios a pé, free, com guias locais. Saídas diárias (chova ou faça sol): 
Passeios de barco pelo Sena: aqui

Compras:
Mercado de pulgas: aqui

Gastronomia:
Le Procope - aqui
Nos ancetres - aqui
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Roma

Roma, cidade para voltar sempre
(um dia eu ainda vejo tudo)

Nada tenho a dizer sobre Roma que não tenha sido dito por alguém, quem sabe há mais de dois mil anos. Para os que gostam de viajar, é uma cidade para se voltar muitas vezes, tantas são suas atrações. Raiz profunda da cultura ocidental, aula de história, pintura, arquitetura, verdadeiro museu a céu aberto. Melhor: dá para percorrer quase tudo a pé, sem precisar de um mapa para encontrar os principais pontos, é só misturar-se aos transeuntes e seguir as levas de turistas. A cidade é bem sinalizada e o sistema de transporte público ajuda.
A primeira dica é: vá a um dos quiosques de Informações Turísticas (sinalizados por um “ï”) e pegue todos os folhetos que puder. 


Encontrará sugestões de passeios temáticos com roteiros a pé e enfoques específicos: ruas, bairros e obras de arte, além da programação artístico-cultural da temporada. Reserve o primeiro horário da manhã para os pontos mais procurados. Isso evita filas e deixa tardes e noites livres. Conhecer o Fórum Romano, o Coliseu e o Vaticano exige algumas horas em cada um deles. Prepare-se para andar bastante e subir muitos degraus.




                            fotos by: Isadora Pamplona
Logo na minha primeira vez em Roma, acordamos cedinho, pegamos metrô e corremos para o Vaticano, a fim de não enfrentar filas. O trem estava apinhado, o mesmo aconteceu na Praça São Pedro. Só depois, ficamos sabendo que era aniversário do Papa que, por isso, circulou em carro aberto no local. Ficamos espremidas na praça, em meio a milhares de peregrinos que foram homenagear Bento XVI.


Saindo do Vaticano, uma boa pedida é visitar o vizinho Castel Sant’Angelo, que dizem, servia de rota de fuga para os papas e hoje abriga um importante museu. O papa Gregório I afirmou ter visto o arcanjo São Miguel no topo do castelo empunhando uma espada, o que indicaria o fim da grande epidemia que assolava Roma à época e que, afinal, terminou sendo debelada. Por isso, a estátua do anjo no alto do prédio, de cujo terraço se tem uma bela vista do rio Tibre e também do duomo da Basílica de São Pedro.
                                                           Foto by: Susy Mara Schaeffer
                                           Ao fundo, Castel Sant'Angelo
                                           Abelardo,"o querido", Ingri, eu, Edel, 
                                           menos a Susy (que não estava no Canadá),
                                clicando a foto.
       
As igrejas são veramente um caso à parte, não importa a crença do visitante. Muitas edificadas sobre antigas ruínas de templos pagãos, elas encerram verdadeiros tesouros em arte estatuária e pictórica. Fizemos, minha filha e eu, um roteiro próprio percorrendo aquelas que mais nos interessavam. Percebemos que havia um professor dando aula a um grupo de alunos, nos aproximamos e tivemos a certeza de que estávamos vendo arte clássica pura. Curiosamente, reencontramos o mesmo grupo em três ou quatro outras igrejas durante nosso percurso.
Particularmente, considerei imprescindível entrar na Igreja de Santa Maria della Vittoria para admirar o Êxtase de Santa Teresa, escultura de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680). A estátua fica em um nicho de mármore e bronze dourado e representa a experiência mística da santa, atingida pelo amor divino através da seta de um anjo. Os traços sugerem extrema delicadeza, anjo e santa de pedra parecem derreter-se em gestos e movimentos.
                                                           foto by:www.google.com.br
                            Êxtase de Santa Teresa, mostra do talento de Bernini 


A igreja Santa Maria in Cosmedin (atenção, fecha cedo, por volta de 17h), é bastante procurada pelos turistas por causa da peça em mármore com um rosto esculpido e um grande buraco, chamada Bocca della Verità. Lenda antiga diz que a boca se fecha cortando a mão de quem mente, por isso muitos casais vão ali “testar” a fidelidade do seu par.



Próximo à estação de trens Termini fica a igreja Santa Maria degli Angeli, construída sobre antigo local de banhos da Roma imperial junto às ruínas das Termas de Diocleciano. No entorno, a magnífica Piazza della Repubblica, uma das mais importantes vias de Roma, em cujo centro se pode admirar a Fontana delle Naiadi (Fonte das Náiades).



Dedique algum tempo para simplesmente andar pelas ruas e praças, sentar em um café, tomar um gelato. Para mim uma das experiências visuais e gustativas mais impressionantes é a Gelateria Giolitti com seus sorvetes artesanais, doces e primorosos cafés. Seus freqüentadores podem ser desde a família Obama, Berlusconi, Antônio Banderas ou Sharon Stone. Bom mesmo é sentar fora e ficar observando quem sai lambendo um sorvete. Seja uma freira, um vovô ou um austero juiz, todos saem feito crianças, com um ar angelical de extrema felicidade como se estivessem no paraíso.
                                                             foto by: www.giolitti.it
             
Um roteiro bem simples, mas gostoso, é percorrer algumas das centenas de praças: comece pela Piazza di Spagna e junte-se aos turistas sentados nos degraus da escadaria. A Piazza Navona com suas fontes e estátuas de Bernini, abriga o Palácio Pamphili, sede da Embaixada Brasileira. Na Piazza della Rotonda, fica o Pantheon. Imperdível, claro, a Fontana di Trevi, que, mesmo de madrugada, reúne milhares de pessoas posando para uma foto com a clássica cena jogando uma moeda que, dizem, garante que um dia se retornará a Roma.
                   Fotos by: Isadora Pamplona




Piazza di Spagna (na primavera)






Piazza Navona, onde fica o prédio da Embaixada do Brasil













Piazza Navona,
Susy, entre Edel e eu
                                           Piazza della Rotonda (e Pantheon)

                                                                Interior do Pantheon
                                                     Fontana di Trevi
Campo dei Fiori


Campo dei Fiori é outro local interessante, cercado por restaurantes e cafés sempre repletos e agitados. À noite, transforma-se em ponto de encontro, principalmente de jovens. Aos sábados, vira uma feira de flores e frutas, onde romanos e turistas se misturam por entre as barracas espalhadas em torno da estátua de Giordano Bruno.




Para caminhadas mais longas, vale um passeio pelas margens do rio Tibre (Tevere para os romanos), passando por uma de suas pontes e chegando ao Trastevere (além do Tevere) e suas ruas medievais. O bairro, antes simples, hoje é cheio de restaurantes, casas noturnas e butiques de moda.     


Na margem direita se tem uma visão panorâmica e única da capital italiana subindo até o Monte Gianicolo. O local tem interesse especial para brasileiros, pois abriga dois imponentes monumentos homenageando os heróis Garibaldi e Anita (enterrada ali, sob a estátua). 



   



     Monumento em homenagem
     à brasileira Anita Garibaldi







                                          Foto by:Susy Mara Schaeffer
Fiz questão de andar pela via Appia e lá fomos nós caminhando por entre os carros em trechos sem calçamento. Poucas cidades no mundo podem se dar esse luxo: manter fluxo contínuo de trânsito pela mesma estrada onde pisaram os romanos nos tempos do  império. 
via Appia Antica começou a ser construída em 320 a. C. cobrindo uma distância de aproximadamente 300 quilômetros, depois foi sendo ampliada e chegou até o “calcanhar” da bota formada pelo  mapa da Itália.

                     Foto by: Isadora Pamplona
                                                     Vila Borghese

Programe uma tarde nos jardins da Villa Borghese. Este imenso complexo paisagístico, hoje transformado em parque público, foi adquirido da nobreza empobrecida no início do século passado. Abriga museus, templos, fontes e belas estátuas, além de um grande lago e espaços verdes que proporcionam passeios tranqüilos. É um bom local para deitar no gramado e tirar uma soneca como fazem os romanos.
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Mais sobre Itália, no blog, em:
Peschiera (Lago di Garda)
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Dicas/experiências:
Informações turísticas:
roteiros free de caminhadas a pé com guias locais:
Gastronomia:
Gelateria Giolitti: (http://www.giolitti.it/home.html), Via Uficci del Vicario, 40. Aberta desde o início do século passado, com ambientação inspirada na Belle Époque, funciona todos os dias 24h.
Restaurante Romolo nel Giardino della Fornarina.
(http://www.ristorantefornarina.it/). Via Porta Settimiana, 8. No Trastevere.
Lindo pátio, ponto de encontro de artistas, pintores, políticos. Dizem que era a casa da Fornarina, amante de Rafael. 

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Pelos caminhos dos sonhos

(Turismo pelo passado)

Registro as viagens que fiz para continuar tendo delas boas lembranças. Mas, também porque acredito que relatos de pessoas comuns fazem mais pelo turismo do que os ministérios. Quando digo que sou brasileira, nas minhas andanças, ouço muitos suspiros e sorrisos que revelam intensa simpatia. Vejo que o meu país, por sua vez, faz parte do sonho de outras culturas. Conversei com pessoas, com as quais continuo trocando mensagens, que alimentam o sonho de “um dia” conhecer o Brasil.
Minhas viagens são inspiradas em grande parte por relatos que li e ouvi misturados com uma boa dose de imaginação. Fontes preciosas e permanentes: Júlio Verne, Marco Polo, Jonathan Swift – lidos em versões para o público infantil -, mais Ítalo Calvino e Amyr Klink entre outros. Tive um inesquecível professor de Geografia, nos distantes bancos escolares, que nos proporcionou o primeiro giro pelo mundo quando ainda fazíamos “pesquisas” em revistas e enciclopédias, nem existia o “CTRL-C + CTRL-V”.
Naquela mesma distante época, assisti a um espetáculo protagonizado pelos alunos com versões de músicas conhecidas em diversas línguas, encenadas com roupas e ambientações características de cada país. Flocos de algodão faziam as vezes da neve na Rússia que, desde então, cultivei o sonho de conhecer no inverno. Um pouco mais adiante, Fiódor Dostoiévsky encarregou-se de transformar o sonho em paixão.
Ah, às vezes faço turismo pelo passado, também é interessante e bom.
Há mais ou menos 50 anos, sentada numa das cadeiras da platéia do pequeno teatro do colégio, vi o mundo passar num musical apresentado no palco. Tive a sorte de poder visitar quase todos os países ali mostrados. Retornei e fiz, há poucos meses, uma visita sentimental à cidadezinha que tanto marcou minha infância e adolescência, numa espécie de viagem pelo avesso, apenas para rever aquele espaço minúsculo, vazio e iluminado, onde ainda cabem todos os meus sonhos.
Teatro do antigo Ginásio Nossa Senhora da Conceição,
em Taquari
  O mundo que vejo nas viagens é quase sempre diferente daquele que sonho. Tem pessoas, sons, música, aromas e imprevistos. Tem novas lições. Mas, seguramente, está conectado com a minha infância, com o que ensinaram meus mestres, com os livros, filmes, canções e relatos das freiras, muitas descendentes de imigrantes alemães e italianos.
Um professor, de Matemática, reservava o dia do seu aniversário, a cada ano, para nos contar como teve que fugir da Holanda, durante a II Guerra. Outro, alemão, contou ter visto um filme com o pai, aos oito anos de idade, um documentário sobre o Rio de Janeiro. Não conseguiu mais se livrar do desejo de um dia conhecer aquele país. Quando adulto, sem dinheiro, embarcou como trabalhador num navio e veio parar aqui. Apaixonou-se e escolheu o Brasil para morar.
Sonhar é viajar, viajar é sonhar. É possível viajar pelos caminhos dos sonhos.
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Dicas de leituras/para mim fontes permanentes de inspiração: 
Amyr KlinkCem dias entre o céu e o marMar sem fimParatii, entre dois pólos.
Fiódor DostoiévskyNoites BrancasCrime e CastigoOs irmãos Karamazov.
Italo CalvinoAs cidades Invisíveis.
Jonathan SwiftAs Viagens de Gulliver (guia de estudos em inglês):
Júlio Verne: A Volta ao Mundo em 80 dias; Viagem ao centro da Terra
20 mil léguas submarinas.
Marco Polo: O livro das maravilhas; As viagens de Marco Polo.
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Da Sicília à Calábria

Da Sicília à Calábria - II
Volta Pela Europa em 126 dias - Parte VII
Tropea
Minha paixão por Tropea (a lenda conta ter sido fundada pelo herói mitológico Hércules) aconteceu assim que desci na estação e percorri a rua principal em direção à praia. Essa é, aliás, a atividade social preferida dos turistas e moradores: percorrer incontáveis vezes a extensão do Corso Vittorio Emanuele até o ponto em que a rua termina abruptamente numa espécie de promontório gradeado de onde se vê a praia lá em baixo, a dezenas de metros. Admira-se esta vista, retorna-se e se repete tudo de novo tomando um gelato.
Neste curto trajeto, vi os primeiros turistas da estação atraídos como abelhas pelo néctar. Os pórticos de suntuosos palácios medievais, antigas residências da nobreza, hoje servem de entrada para dezenas de lojas e estas se abrem enfileiradas de ambos os lados da rua. À mostra, brigam por um espaço peças do artesanato local, caixas de frutas, antigos brinquedos mecânicos, roupas e produtos alimentares típicos, como salames, doces e pães caseiros.
A gastronomia é apreciada especialmente pela produção de uma qualidade de cebola vermelha, a cipolla di Tropea, de sabor adocicado e utilizada em grande variedade de pratos. As gelaterias fazem inclusive sorvete de cebola. Outro produto conhecido é o saboroso salame picante conhecido como nduja.
                                                                                             foto by: 

A cidade, como muitas outras na Itália, foi erguida sobre penhascos acima do nível do mar. Assim, para quem a vê de um plano inferior, sua beleza chega a ser estonteante. Não por acaso, esta parte do litoral é chamado Costa Degli Dei (Costa dos deuses). O balneário famoso e suas paisagens atraem levas de turistas no verão, grande parte oriunda da vizinha Alemanha. À tardinha, um programa local é apreciar o por-de-sol sobre o mar Tirreno, tendo ao fundo a silhueta do vulcão Stromboli. Alguns ficaram incrustrados nas minhas retinas de forma indelével como momentos mágicos.
Minha temporada em Tropea foi a mais econômica da viagem porque Elke apresentou-me à suora Domênica, uma ativa freirinha em seus 80 anos, que gerencia um antigo monastério em pleno centro histórico. Ela faz sozinha todo o serviço, cozinha, lava e passa, faz faxina, dá aulas de italiano para crianças e recebe alguns turistas como hóspedes.
Fiquei numa ala do prédio com um pequeno quarto, fogão, geladeira, banho e, de quebra, um amplo terraço do qual eu tinha uma visão panorâmica da praia. Tropea foi o lugar perfeito para descansar dos dois meses anteriores de viagem e preparar o itinerário para os seguintes.
Consegui meu propósito inicial que era permanecer por uns dias num local em que eu pudesse transitar como se ali morasse. Freqüentar a padaria, o supermercado, conversar em italiano e tentar melhorar o que aprendi. Troquei durante 15 dias a rotina de arrastar malas e percorrer estações de trem por passeios pela praia e pelas ruelas, admirando a arquitetura do lugar.
Tive que aprender a fazer a “sesta”, pois no horário entre meio-dia e quatro da tarde fechavam-se portas, janelas e postigos. O comércio reabre, preguiçosamente, em torno das 17h e só fecha lá pelas 22h. Olga, uma das hóspedes, convidou-me a conhecer as vizinhas cidades de Pizzo Calabro, onde se come tartufos especiais e Scilla, onde visitamos um castelo sobre a rocha e caminhamos pelo casario de pescadores. 

                                 










Scilla





Olga deu o nome de Scilla a uma de suas filhas e explicou-me que, segundo a mitologia grega, Scilla e Caribdis eram dois monstros marinhos que habitavam nos lados opostos do estreito de Messina. Personificavam os perigos da navegação próximo de rochas e redemoinhos.
Em Tropea conheci também a francesa Michele que, descobri depois, é cantora de jazz e tem músicas e shows gravados com a banda Mad Losa. Vale a pena ouvi-la cantando Sunny.
Passamos um dia na praia de Capo Vaticano, na vizinha Ricadi, com água tépida e de uma cor verde-azulado indescritível, pois não tenho referência nos meus padrões de cores. A praia era um pouco distante da estação, mas, assim que descemos do trem conseguimos uma carona.
                                                                                             foto by: 
                                                                                         Michele

No final da tarde, quando retornamos, descobrimos que o próximo trem partiria somente dali a umas duas horas. Então, Michele me fez voltar aos tempos de pedir carona na beira da estrada com o polegar levantado. Eu, um pouco intimidada, ela fazendo duplo papel, levantando junto o meu braço. Disse que fazia questão da minha participação na empreitada.
Sofremos um bom tempo ali, de um lado a outro na estrada, sob o sol forte, vendo os carros passarem sem parar. Até que, afinal, um italiano simpático fez retorno, perguntou para onde estávamos indo e nos levou até Tropea. No caminho, explicou que “por ali” nossa estratégia não funcionava, pois pedir carona não fazia parte dos costumes locais.
Mas, como se vê, funcionou.
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Mais sobre Itália, no blog, em:
Costiera Amalfitana
Peschiera (Lago di Garda)
Roma
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Dicas/experiências:
No centro histórico de Tropea, o Max Bar oferece uma taça de vinho, com um prato de petiscos, mais internet free por € 5,00.  
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Da Sicília à Calábria - I (Catânia, Sircusa)

Volta Pela Europa em 126 dias - Parte VI
(Catânia, Siracusa)

Fui parar na Calábria por ser tagarela. Puxei assunto com uma turista no ônibus que transporta passageiros gratuitamente entre o terminal rodoviário e o centro histórico de Siracusa, na Sicília. Elke e eu decidimos conhecer a cidade juntas. Fundada em torno de 734 a. C. por ordem do oráculo de Delfos, Siracusa foi conquistada ao final do “Grande Cerco”, no qual foi morto o matemático Arquimedes. A cidade mantém ainda suas ruínas greco-romanas.
Pela manhã, circulamos pelo mercado público e pelas barraquinhas da feira antes de encontrarmos um restaurante com "ar local" para almoçar, onde os freqüentadores pareciam habituais e não apenas turistas como nós. Descobrimos que ambas estávamos sediadas na vizinha Catânia e para lá retornamos no final do dia.
                                      foto by: 
Duomo da Catania, fachada principal, 
exemplo do barroco siciliano
                              

     Naquela cidade portuária da Sicília oriental, às margens do mar Jônico e ao sopé do Etna, fizemos passeios pelo centro histórico com suas igrejas barrocas, palácios e prédios geralmente de cor cinza escurecida, obra da fuligem do vulcão. Na praça central, a “Fontana dell’Elefante”, símbolo do lugar e, segundo dizem, último remanescente do antigo costume de colocar elefantes de pedra nas portas da cidade para afugentar os invasores.
                                 foto by:                    
                      
Pretendia no dia seguinte fazer um passeio solitário ao Etna e depois partir para Taormina. Mas, Elke, que mora no sudoeste da Alemanha, na Floresta Negra, estava indo para Tropea visitar uma filha e batizar a neta e convidou-me a conhecer aquela cidade da qual eu jamais ouvira falar. Deixei para trás Etna e Taormina, o que, provavelmente, me levará um dia de volta ao sul da Itália e segui com ela de trem para a Calábria.
Adoro os mares e suas histórias: a travessia entre a Sicília e a Calábria é feita no Estreito de Messina, que une os mares Tirreno, Jônico e Mediterrâneo. Durante o trajeto, algo inusitado: o trem literalmente “embarca” num navio com toda a sua carga e passageiros. Uma vez estando do outro lado, coloca-se sobre os trilhos de novo e segue a viagem. Chegamos à Calábria.
Durante a travessia, descemos do trem
para apreciar o mar revolto do Estreito de Messina
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Mais sobre Itália, no blog, em:
Peschiera (Lago di Garda)
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